16 outubro 2006

Quedas são problema de saúde pública entre idosos


Há uma semana, o arquiteto Oscar Niemeyer, 98, caiu após tropeçar no tapete da sala de sua própria casa. O resultado foi uma fratura no quadril e uma cirurgia de duas horas. Esse tipo de acidente doméstico é comum entre idosos, mas pode ser um grave problema.

Estima-se que após os 65 anos, 30% das pessoas sofram quedas. Após os 80, essa porcentagem salta para 50%. Com menos massa muscular e ossos mais frágeis, o idoso corre sério risco de, além dos hematomas, sofrer uma fratura grave, que pode levar a uma cirurgia.

"A queda é comum, mas não pode ser encarada como natural. O assunto é pouco visto, mas no exterior existem programas de prevenção. Isso é uma questão de saúde pública", afirma Monica Rodrigues Perracini, fisioterapeuta que fez um estudo com 1.600 idosos sobre o assunto.

Não dá para culpar apenas um problema neurológico ou a osteoporose. "Não existe uma doença específica que faça cair mais. São multifatores, várias coisas acontecem para isso."

Problemas de equilíbrio, de visão, medicamentos que podem causar tontura são algumas das causas. Mesmo dentro de casa, tapetes, desníveis e pequenos animais de estimação podem provocar uma queda.

"É preciso adotar estratégias de prevenção. Na casa do idoso, tem que melhorar a iluminação, colocar corrimão em escadas, corredor, no banheiro, tirar os tapetes e usar rampas ao invés de degraus", diz o ortopedista André Pedrinelli, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.

Investir na saúde, com exercícios que trabalhem equilíbrio e massa muscular, também é importante, assim como manter uma boa alimentação, com muito cálcio. "Todos já caímos, mas reagimos mais rápido e temos mecanismos de defesa como girar o corpo e procurar um apoio. A pessoa idosa não tem a mesma coordenação motora e não reage como antes."

Medo
O idoso que cai uma vez tem mais chances de cair de novo. Um problema freqüente que surge a partir do acidente é o medo. Embora os médicos não gostem muito da expressão, esse temor é chamado muitas vezes de "síndrome pós-queda". Ou seja, após o acidente o idoso se sente inseguro e tem dificuldade em retomar suas atividades. Ou, até mesmo, fica com medo de andar. Para esses casos é recomendado fazer um trabalho de fisioterapia e reabilitação. "A propriocepção é um treinamento para a pessoa aprender de novo a se movimentar, ter agilidade para andar em terrenos irregulares, voltar a ter confiança", diz Moisés Cohen, professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp.

Quando há fratura, a indicação, geralmente, é a cirurgia. "Por ter idade, você não pode deixar esse paciente na cama por dois, três meses. E também o osso pode não consolidar nunca ou em posições erradas."

Não se deve tampouco restringir as atividades da pessoa, sob o risco de a falta de movimento deixá-la ainda mais frágil, criando um círculo vicioso. Com medo de perder a independência, muitos idosos escondem que caíram, e a família só fica sabendo quando o resultado dessa queda é grave.
(Fonte: Constança Tatsch / Folha de S. Paulo)

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